segunda-feira, 3 de maio de 2010

O encontro que não houve.

O encontro que não houve.

Hoje eu vi a morte.
Estava uma manhã linda,
Ensolarada
Quase quente.
Ela foi a última a chegar.
Silenciosa,
Quieta,
Percorreu todo o tapete vermelho
E sentou-se devagarinho
Numa vaga do primeiro banco.
Sorrateira,
Mas eu a vi.
Era branca, quase transparente,
Toda arrumadinha,
Vestido esvoaçante e luvas finas,
Cabelo arrumado num cocó.
Maquiagem carregada.
Acho que para disfarçar o cansaço
De uma noite de muito trabalho.

Não cantou nem se levantou
E dormiu durante o sermão.

Não sei se ela me viu,
Nossos olhares não se cruzaram.
Também pudera,
Eu me sentei no penúltimo banco.
Durante todo o tempo
Ela olhou fixamente para o ataúde
Adornado com um imenso ramalhete
De alegres rosas vermelhas.

À saída,
Sem que ninguém planejasse,
Formou-se uma longa fila indiana.
A morte, então,
Correu os olhos por todos
E os deteve em um vovô
Em pé, no meio da fila.
Meneou a cabeça tristemente,
Deu um longo suspiro
Baixou a cabeça e
Foi a primeira a sair,
Puxando o esquife.

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