segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Na Terceira Conjugação

Se a esperança vencer,
Se o futuro sorrir,
Se o sol brilhar,
Se ela falar,
Se ele a ouvir;

Se o poeta a descrever,
Se ele não mentir,
Se ela ler e gostar,
Se sua mão a dele entrelaçar,
Se o coração tinir;

Se a mente entender,
Se o passado não interferir,
Se o que os uniu, ratificar,
Se tudo, então, se solidificar,
Se o cristal não se partir;

Se o sentimento permanecer,
Se o romance explodir,
Se a pergunta intimar
Se ir ou se ficar...
Se ir.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Ninho

Foi ontem, mas ontem foi como se fora hoje
E todas as outras vezes foram como se fossem agora
Todas de uma vez, sempre e iguais.

Encolhi-me naquela cadeira larga ante ao teu vulto distante
Imoto e remoto, quase imperceptível ao senso.

Deixei-me escorregar o coração até quase desaparecer
O som metálico de tua voz que não ouvi
Nem mesmo teus lábios se moverem
Naquela litania que conheço de cor
Sem que dela pronuncies uma só palavra.

Desviei do teu olhar silente
Para esconder os murmúrios salgados que no meu ecoavam
Sentindo o fôlego desvanecer
Enquanto te ias (e te vais, e te irás).

“Ah, tempo, senhor do saber,
Não me deixes escorrer pelos dedos
O que ainda espero da vida.”

Com essa breve prece eu desço o ouvido ao chão
Que sussurra à minha alma teus passos firmes
Caminhando noutra direção.

Foi ainda ontem...






quinta-feira, 17 de maio de 2012

Ver de Paixão

E então eis-me aqui
completamente envolvido pela brisa atlântica 
que sopra no litoral sul baiano. 

Nos lábios um riso sonhador. 

Na memória, o ramalhar quase preguiçoso de ondas 
que se quebram espumosas, 
deixando ainda mais branca a areia das praias de Ilhéus. 

Eu gosto de pensar que elas refletem o branco do teu sorriso. 

Meu Deus! 
Olho, embasbacado, a vastidão verde-esmeralda 
desse oceano sem fim dos teus olhos verdes, verdes.
E não consigo desviar meu olhar dessas vagas que vem 
e me perpassam, 
misteriosas e envolventes, 
soprando palavras initeligíveis as quais me esorço para entender. 

Que encanto é esse que chega da terra do cacau?



domingo, 1 de abril de 2012

O Típico Churrasco Norte-Carolinense


Relato de uma experiência transcultural que vivi quando da minha primeira visita aos EUA. Texto escrito em 8 de novembro de 2000.

Você sabe, depois de dias e dias comendo aquela comida meio doce, meio salgada, meio amanteigada das terras do Tio Sam, a gente fica com uma saudade danada do sabor das nossas comidinhas.

SE BEM QUE (e em letras grandes para que fique bem registrado) a maior parte das comidas que comemos na casa da nossa hospedeira tem um sabor Terra Brasilis, por exemplo: macaxeira, sopas enlatadas que, incrementadas com o tempeiro brasileiro, são uma delícia. café, y otras cositas mas. Bom, voltemos, então, àquela vontade de comer algo, assim, digamos, tupiniquim...

De repente e não mais que de repente chega um amigo americano e pergunta:

- Vocês gostariam de experimentar do churrasco tipicamente norte carolinense?

Ávidos que estávamos por algo diferente, só escutamos a palavra CHURRASCO, ignorando - ainda que inconscientemente - o restante da frase...

Aceitamos o convite no ato, com a mais boa das caras e um olhar sonhador com aquela carninha cheirosa e tenra, sendo servida pra nós naqueles espetos típicos de churrascaria (ledo engano!).

Chegamos ao restaurante na hora aprasada, e encontramos Alice, nos esperando do lado de fora. Cumprimentos e coisa e tal, e vamos ao que interessa. Carne, por favor.

Richard, nosso amigo já havia reservado uma mesa pra nós, e estava nos aguardando lá, conversando outro amigo americano enquando nos aguardava.

Cumprimentos, etc.

Ele me levou, então, pra conhecer o lugar, na cozinha do restaurante, onde o churrasco era preparado. Havia um enorme forno à lenha onde, me explicou, era feito o tal churrasco. Cheiro de carne no ar, que é bom...nada! Carne assando nos espetos, menos ainda!

Comecei a suspeitar que as coisas não seriam exatamente como imaginamos.

Voltamos pra mesa e veio a garçonete, pra anotar o nosso pedido. Soubemos então que o churrasco viria acompanhado por dois tipos de vegetais, a nossa escolha.

Apesar do meu desencanto por não ter arroz entre os vegetais constantes  no menu, escolhi potato & green beens, achando que iria abafar, comendo churrasco com batata inglesa e feijão verde.

Os nossos amigos gringos pediram chá gelado, uma espécie similar ao chá mate, bem doce com bastante gelo em cubos, servido em copos de 750ml, e nós, os amigos da América do Sul, como éramos apresentados as pessoas pelo nosso amigo, pedimos coca-cola mesmo. Eu sei do ditado diz que "Em terra de sapo: de cócoras com eles" mas, pelo sim e pelo não, optamos por um sabor mais ao nosso gosto mesmo. Churrasco com chá não combina muito, não é verdade?

Conversa daqui, conversa dali, eis que das bandas da cozinha surge nossa garçonete, com a bandeja e os nossos pratos já prontos! Enquanto ela se aproximava, eu esquadrinhava a bandeja, na vã tentativa de localizar o prato das carnes. Carnes?

O meu prato: uma batata inglesa bem grandona, assada no forno e envolta por papel alumínio. De tão grande que era, juro que achei que era batata doce. Estava realmente muito gostosa. Para acompanhá-la, um potinho, parecido com um iogurtinho em miniatura, com margarina. Ao lado da batata havia uma porção enorme de green beens cozidos que, para o meu desalento e desespero, descobri naquele momento que o nome em inglês é um falso cognato: trata-se da nossa velha conhecida VAGEM, que eu tanto detesto, acompanhada por outro potinho com molho para saladas. Finalmente, o churrasco, que nada mais era que porco assado ao forno, todo picadinho, iguais aquelas de carne de porco que são comidos no pão em algumas das nossas cidades brasileiras. O gosto? meio salgado, meio avinagrado, meio amanteigado.

Comi de tudo, fazendo cara de paisagem, apesar da minha frustração. As crianças só beliscaram. Tomaram suas coca-colinhas com batatas-fritas. O que elas deixaram intocado, embalamos tudo e levamos pra casa, que nosso anfitrião americano comeu com muita satisfação.

Enfim, essa é a história do "churrasco" que comi na América.

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Nota: a foto que ilustra esta postagem foi tirada em junho/2011. Morei por um tempo nos EUA e antes de retornar ao Brasil, resolvi me despedir dos restaurantes daquele país comendo exatamente ao mesmo lugar onde se passara a experiência acima relatada. Por capricho do destino, sei lá, o menu era exatamente o mesmo de outrora, portanto, dedidi-me pelo mesmíssimo prato. Não muito surpreso, constatei que seis anos morando na terra do tio Sam alteraram substancialmente meu paladar. Comi tudo com o maior gosto!

segunda-feira, 5 de março de 2012

Déjà vu

Ainda agora sinto o peso do teu olhar no meu ombro nu,
pelas costas, e ao longo das minhas espáduas,
enquanto me barbeava.

Pelo espelho eu acompanhava aquele olhar
num misto de estranheza e encanto,
pergundando-me se eras mesmo tu.
Senti meu corpo aquecer rapidamente
e desejei que aquele instante fosse eterno.
Mas instantes são apenas instantes,
fugidios, transitórios, fugazes,
eles mesmos.

E a mente, que nem sempre mente,
lembrou-me que ali não eras tu,
posto que não te chamas Fênix.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O não-Ser

Hoje não és.
Contudo quando fecho os olhos
ainda te vejo
sorrindo
cheia de viço
e de amor entregue.

Dessarte minhas noites têm sido longas,
perturbadoramente insones,
pois se durmo, te sonho.

Como não és,
não durmo.
Nem sonho.
Quedo-me acordado
silenciando a memória
com meu melhor sorriso.

- Olá, anda desaparecido... tudo bem?
- E você, como vai?

E tua imagem refletida no oco da minha retina
aparece apenas esporadicamente
quando pisco os olhos.

Assustado, percebo que ainda estás lá.

Mas não mais te busco.

Entretanto, se cerro os olhos,
minha alma te encerra
e o meu corpo te escuta
no vazio silencioso desta cama
fria.