quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Os pássaros e os passarinhos.

Caminhávamos de mãos dadas por entre as trilhas do parque florestal, alheios ao cricrilar dos grilos anunciando chuva. O céu vestia-se de um enorme casaco cinza, a proteger-se do vento frio que soprava de tempos em tempos. Conversávamos sobre tudo e sobre nada, absortos em nosso próprio mundo que consistia apenas de uma vereda contínua, ladeada de árvores altas, às vezes estreita demais para que caminhássemos lado a lado. Ríamos de nossas piadas infantis e bobas, as quais as sabíamos de contá-las vezes sem fim. E ríamos mesmo assim. Ríamos alto, contorcendo nossos abdomes e sem reparar que nossa marcha já não era tão célere quanto no início. Sabíamo-nos inocentes e belos. Sentíamo-nos assim, imortais e felizes, contagiados pelo viço da paixão da juventude que a todos torna eternos.

Caminhamos de mãos dadas pelas ruas movimentadas em direção à estação central. Nossos cabelos grisalhos acompanham o movimento dos nossos passos apressados, sem se assanharem, todavia, porque não há vento que consiga passar por entre o emaranhado de arranha-céus do centro da cidade. O ar parado contrasta com nossos pensamentos velozes, mais rápidos que as pessoas que passam por nós, esbarrando-se atabalhoardamente umas as outras, no afã de chegar primeiro ao metrô que nos levará a todos. Entreolhamo-nos com um sorriso cúmplice que apenas nós percebemos. Sabem eles o que da vida? Meneamos nossa cabeça e rimos desabridamente. Nossos pensamentos os seguem pelas trilhas do parque florestal. Da cidade, tentamos ouvir-lhes as conversas e as risadas. Sabemo-los felizes. O apito anuncia a porta que se fecha. Sentados lado a lado, aperto-lhe a mão e pisco o olho demonstando meu contentamento. Ela sorri. Seguimos em frente.