sábado, 5 de março de 2011

Boa sorte, adeus.


Às vezes o final de uma amizade é necessário para que a vida prossiga. É preciso que se rompam os laços e o que houve de bom seja cuidadosamente arrumado numa vitrine de uma das prateleiras do passado para, num eventual futuro passeio pelo por aquele tempo passado, não se ter que percorrer ruas estreitas e trilhas perigosas para encontrar algo bom de recordar.

Esses pensamentos trazem-me à memória a música "Bilhete," composta por Ivan Lins e Vítor Martins, e interpretada por vários artistas.

Bilhete - Ivan Lins

Quebrei o teu prato, tranquei o meu quarto
Bebi teu licor
Arrumei a sala, já fiz tua mala
Pus no corredor
Eu limpei minha vida, te tirei do meu corpo
Te tirei das entranhas
Fiz um tipo de aborto
E por fim nosso caso acabou, está morto
Jogue a cópia da chave por debaixo da porta
Que é pra não ter motivo
De pensar numa volta
Fique junto dos teus
Boa sorte, adeus


=> Veja o vídeo no YouTube: http://www.youtube.com/watch?v=mCkQMFam_GI

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Homenagem

Hoje li uma poesia linda e pedi a sua autora para divulgá-la aqui, neste modesto blog.

SILÊNCIO DAS PALAVRAS

Não sei mais me escrever.
Me falta ser o que se foi
contigo.
O ser-sem-ti me esvazia de mim
e só existo no tempo desse verso.
Desperto do torpor de não te (ha) ver
somente quando me falas
(mesmo longe).
Então, e só então,
pelo curto espaço de tua voz dizer meu nome,
volto a ser o que mais profundamente
Sou.

Cliz Monteiro

(Publicado no Recanto das Letras em 18/01/2011, código do texto: T2737725)
http://recantodasletras.uol.com.br/poesias/2737725

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Os pássaros e os passarinhos.

Caminhávamos de mãos dadas por entre as trilhas do parque florestal, alheios ao cricrilar dos grilos anunciando chuva. O céu vestia-se de um enorme casaco cinza, a proteger-se do vento frio que soprava de tempos em tempos. Conversávamos sobre tudo e sobre nada, absortos em nosso próprio mundo que consistia apenas de uma vereda contínua, ladeada de árvores altas, às vezes estreita demais para que caminhássemos lado a lado. Ríamos de nossas piadas infantis e bobas, as quais as sabíamos de contá-las vezes sem fim. E ríamos mesmo assim. Ríamos alto, contorcendo nossos abdomes e sem reparar que nossa marcha já não era tão célere quanto no início. Sabíamo-nos inocentes e belos. Sentíamo-nos assim, imortais e felizes, contagiados pelo viço da paixão da juventude que a todos torna eternos.

Caminhamos de mãos dadas pelas ruas movimentadas em direção à estação central. Nossos cabelos grisalhos acompanham o movimento dos nossos passos apressados, sem se assanharem, todavia, porque não há vento que consiga passar por entre o emaranhado de arranha-céus do centro da cidade. O ar parado contrasta com nossos pensamentos velozes, mais rápidos que as pessoas que passam por nós, esbarrando-se atabalhoardamente umas as outras, no afã de chegar primeiro ao metrô que nos levará a todos. Entreolhamo-nos com um sorriso cúmplice que apenas nós percebemos. Sabem eles o que da vida? Meneamos nossa cabeça e rimos desabridamente. Nossos pensamentos os seguem pelas trilhas do parque florestal. Da cidade, tentamos ouvir-lhes as conversas e as risadas. Sabemo-los felizes. O apito anuncia a porta que se fecha. Sentados lado a lado, aperto-lhe a mão e pisco o olho demonstando meu contentamento. Ela sorri. Seguimos em frente.