sexta-feira, 30 de abril de 2010

Aunt Isa


Today I want to reverence this great woman Isa França Neto, whose importance in my life transcends any mere description I could ever come up with. Right now she is in a hospital bed and unfortunately I don't think she will make it due to the seriousness of her illness. I wish I could have told her how much she is dear and precious to me. I wish I had told her in the last time we talked over the phone that she is simply adorable and I miss her so much. Aunt Isa, if your day is today, go rest in peace. You were this sweet angel sent by God to bless the lives of each and every nephew and niece you had. I would dare to say now that no other aunt has ever left the marks in our lives the way you did. We love you. We love you. I honor you.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

As Margaridas Amarelas

- Como eram lindas aquelas margaridas... pensei alto. No escuro da minha mente, fosforecia o amerelo e o branco daquelas duas margaridas pequenas, quase escondidas por trás daquele oco vazio e denso que havia dentro em mim. Contemplei mais uma vez o filete de água que se formara de dois ou três pingos de chuva e que descia preguiçosamente pela vidraça embaçada. Percebi que ele fazia uma curva sinuosa que insistia em não cair vertiginosamente em movimento retilíneo uniforme. Tive um sobressalto. Aquela não era a curva do rio do sítio de Seu Sivirino Biu, da perninha fina? Era. Sorri malvadamente. Eu costumava contar mentiras aos meninos da rua sobre a perna fina de Seu Biu. “Fora uma praga que seu pai lhe rogara,” eu dizia com um ar acusatório àqueles olhos esbugalhados que, de tanto pavor, tinham até medo de piscar. E eu ria dento de mim, perversamente. Por que ele cabuetara a meu pai que eu roubava goiabas? Perneta mentiroso! Apanhei tanto aquela tarde. Quis morrer. Lembro vagamente que perambulei pelo quintal, a procura da corda para me enforcar no galho da mangueira. Havia caído no poço, com vasilha e tudo, a maldita.

O barulho da chuva se espatifando na vidraça me trouxe de volta à realidade daquele quarto frio e úmido. Como eu detestava aquele porão! E o cheiro de mofo no ar? Não o podia suportar. De mofo e de margaridas. Novamente a imagem daquelas duas margaridas vieram à tona, mais vívidas, mais brancas e amarelas. A maior tinha 33 pétalas. Conferi: é, trinta e três. Pensei em quando completara 33 anos. É um número cabalístico, lembro-me de tê-lo dito despretenciosamente, sem refletir no significado daquela palavra. É a idade de Cristo. Pelo menos é o que as pessoas dizem. Filosofia barata, pura bobagem, pensei. “Não vou morrer nem com 33 nem com 66.” Desenhei no ar o número 66.

A escadaria que dava para a rua estava coberta por uma cachoeira de água barrenta que vinha descendo rua abaixo, desembestada, absoluta e truculenta, desrespeitando seus limites do meio-fio, invadindo o meu espaço sem pedir licença. Impacientei-me ante aquela vista. Por trás da vidraça embaçada eu observava a chuva que não parava de cair. A escuridão do céu tornava o dia cinzento e lúgubre. Mas não estamos em agosto? Como pode essa chuvarada, meu Deus! Afastei-me da janela lentamente, sem perder de vista a cachoeira do lado de fora. Liguei a luz. Apaguei-a num movimento automatizado. Caminhei pelo quarto, respirando ofegantemente. O coração batia acelerado e eu não entendia porque. Olhei para a parede mofada. A pintura descascando parecia que iria cair a qualquer momento. Enquanto isso, a aranha tecia freneticamente sua teia de mil e um pontos, absorta em seu trabalho, sem tomar conhecimento do que se passava lá fora. Invejei-a a despreocupação. Sorri.

Deixei-me cair na poltrona do canto da sala observando aranha trabalhar. Meu olhar atravessava a teia e se perdia no branco mofado na parede. Eu era como aquela, tecendo a teia da minha vida, sem ninguém por perto, horas a fio, cada dia um pouco mais. Só faltava a placa de aviso, afixada no primeiro fio “CUIDADO, ARANHA IMPLACÁVEL!” Um calafrio percorreu-me a espinha. Depois de tantos relacionamentos, tantas amizades, tantos contatos, não restara nem um telefonema sequer, nem mesmo uma carta esquecida na caixa de correios. Senti um misto de melancolia e solidão. A laboriosa aranha havia pousado no meu cachecol de lã. Surpreendi me deixando-a anexar meu cachecol à sua teia: “Então agora ficamos sócios. E cúmplices.”

Tornei a olhar pela vidraça. Lá fora a chuva esmaecera e a cachoeia transformara-se em no pacato riachinho da infância em cujo leito desciam lentamente 33 pétalas brancas degrau a degrau. Sobre a fórmica branco-opaca da mesa de centro jazia uma corola amarela, triste e careca.