quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Da Realidade à Ficção

Pouca gente sabe, mas papai e mamãe tiveram uma crise colossal no casamento. Foi uma época terrível. O fim do ano de 65 se aproximava e a coisa em casa estava muito, muito feia.
No início de dezembro, papai saiu de casa. Não dava mais. Simples assim – esse tipo de “simples” que só casais entendem – apesar de se amarem loucamente. A verdade é que não durou nem dez dias essa separação. Papai e mamãe perceberam que não conseguiriam viver um sem o outro. Simples assim (novamente). Fizeram juras mil, renovaram seus votos, etc e tal e tiveram uma daquelas noites memoráveis de amor. Previsível, claro.
Chegou 1966. Novo ano, nova vida e... nova gravidez descoberta: a quarta! Eles já tinham três meninas. Naquela época não havia esse negócio de ultrassonografia nem nada. Tudo se sabia pela leitura do que se pensava estar escrito nas estrelas.
A gravidez seguia tranquila, como nenhuma das anteriores. O casamento, mais sólido que nunca, atravessava, talvez, sua fase mais paz & amor jamais vivida. A medida que os meses se passavam – naquela época a gravidez era contada em meses, não em semanas, como o é hoje – a expectativa com a chegada de mais uma criança alegrava e unia a família em um só coração. Finalmente chegou setembro e mamãe ‘descansou’. Quando a parteira anunciou que era um menino, mamãe, emocionada, exclamou: “Nasceu meu raio de sol!” Foi uma alegria geral em casa e naquela cidadezinha do interior. Mamãe recebeu muitas flores. Era praticamente o início da primavera.
Papai, um romântico inveterado, contou essa história para um amigo que ele tinha; um compositor praticamente desconhecido à época, e perguntou se ele poderia compor uma música para que papai oferecesse à mamãe. De muito bom grado, seu amigo aceitou o desafio.
E foi assim que Beto Guedes compôs “Sol de Primavera”, que em pouco tempo viraria um tremendo sucesso nacional. Se você não conhece essa música, clique no link abaixo que você vai constatar que melodia e letra lindas!

domingo, 13 de agosto de 2017

Celebrando a paternidade III

Então, neste dia dos pais, seguindo a 'tradição' iniciada há dois anos, quero externar minha gratidão e também homenagear a essa menina que me fez enxergar e exercer a paternidade com uma cor diferente da azul: minha filha Gabriela.


Na minha cabeça, passava um pouco do meio da manhã quando eu soube que seria pai de menina. Eita, que meu coração chega acelerou! Você nem tem ideia de como me senti naquela hora. Era a terceira vez que eu seria pai, sendo que as duas anteriores foram pai de menino. Nesse sentido, eu poderia ouvir um sonoro “Parabéns! Outro meninão!” para dar continuidade à sequência. E, de verdade, eu gostava de ser pai de menino, mas, puxa vida, dessa vez eu estava torcendo pra ser pai de menina. E foi nesse TUCO-TUCO-TUCO do meu coração que esperei pacientemente checarem se o crânio estava intacto, se os pulmões estavam bem formados, o número de costelas, o coração, o fígado, o baço, as pernas, os braços, enfim, se o corpo todo estava em perfeito estado. Demorou horas mostrando aqui e ali e acolá até que, finalmente, foi direto ao ponto e falou: “aqui rachou tudo!” E eu, meio abobado, perguntei o óbvio: “É... é menina?” Era você, linda desde sempre!
Lembro de ter usado um orelhão que havia próximo à clínica para comunicar as alvíssaras para as avós. A expectativa de sua chegada rachou todos os corações de alegria (risos!).
Quando você chegou, eu tinha 32 anos. Você trouxe um sabor diferente à minha paternidade, um sentimento de completude, talvez. Aprendi a ver a vida por uma perspectiva diferente, mais branda, mais colorida, com mais sensibilidade. Aprendi que para desembaraçar e pentear seu cabelo encaracolado sem doer, eu precisaria usar muito creme. Isso foi uma metáfora pra vida, pois muitas situações que se mostram embaraçadas precisam de algum tipo de creme. E isso foi apenas o começo, porque a partir daí eu aprendi a fazer tranças, modelar os cachinhos, a escovar, etc. Tantas vezes fui seu manequim vivo para você experimentar as cores e texturas de suas paletas. E a vida, filha, é bem assim mesmo: a gente precisa oportunizar às pessoas crescerem, ajudando-as a descobrir e desenvolver seus talentos naturais. Enfim, foram tantas experiências vividas e aprendidas durante sua infância e adolescência (que você mal acabou de sair).
Com você eu também aprendi que as coisas não precisam ser tão a ferro e fogo, ou seja, há que se ser mais maleável na vida. Aprendi a ser mais paciente e que em negociações nem sempre dá para se usar os argumentos mais lógicos. E tantas outras coisas mais.
Hoje, um tanto distantes e distanciados pelas circunstâncias, sigo aprendendo com você, porque é isso que eu sou em essência: um pai aprendiz. Portanto, quero expressar aqui minha gratidão pela sua participação nesse meu processo de paternidade ora divertido, ora tenso, prazeroso e doloroso, com altos e baixos, e longe, bem longe (espero) de se dar por completo.
Um beijo cheio de ternura.