domingo, 1 de abril de 2012

O Típico Churrasco Norte-Carolinense


Relato de uma experiência transcultural que vivi quando da minha primeira visita aos EUA. Texto escrito em 8 de novembro de 2000.

Você sabe, depois de dias e dias comendo aquela comida meio doce, meio salgada, meio amanteigada das terras do Tio Sam, a gente fica com uma saudade danada do sabor das nossas comidinhas.

SE BEM QUE (e em letras grandes para que fique bem registrado) a maior parte das comidas que comemos na casa da nossa hospedeira tem um sabor Terra Brasilis, por exemplo: macaxeira, sopas enlatadas que, incrementadas com o tempeiro brasileiro, são uma delícia. café, y otras cositas mas. Bom, voltemos, então, àquela vontade de comer algo, assim, digamos, tupiniquim...

De repente e não mais que de repente chega um amigo americano e pergunta:

- Vocês gostariam de experimentar do churrasco tipicamente norte carolinense?

Ávidos que estávamos por algo diferente, só escutamos a palavra CHURRASCO, ignorando - ainda que inconscientemente - o restante da frase...

Aceitamos o convite no ato, com a mais boa das caras e um olhar sonhador com aquela carninha cheirosa e tenra, sendo servida pra nós naqueles espetos típicos de churrascaria (ledo engano!).

Chegamos ao restaurante na hora aprasada, e encontramos Alice, nos esperando do lado de fora. Cumprimentos e coisa e tal, e vamos ao que interessa. Carne, por favor.

Richard, nosso amigo já havia reservado uma mesa pra nós, e estava nos aguardando lá, conversando outro amigo americano enquando nos aguardava.

Cumprimentos, etc.

Ele me levou, então, pra conhecer o lugar, na cozinha do restaurante, onde o churrasco era preparado. Havia um enorme forno à lenha onde, me explicou, era feito o tal churrasco. Cheiro de carne no ar, que é bom...nada! Carne assando nos espetos, menos ainda!

Comecei a suspeitar que as coisas não seriam exatamente como imaginamos.

Voltamos pra mesa e veio a garçonete, pra anotar o nosso pedido. Soubemos então que o churrasco viria acompanhado por dois tipos de vegetais, a nossa escolha.

Apesar do meu desencanto por não ter arroz entre os vegetais constantes  no menu, escolhi potato & green beens, achando que iria abafar, comendo churrasco com batata inglesa e feijão verde.

Os nossos amigos gringos pediram chá gelado, uma espécie similar ao chá mate, bem doce com bastante gelo em cubos, servido em copos de 750ml, e nós, os amigos da América do Sul, como éramos apresentados as pessoas pelo nosso amigo, pedimos coca-cola mesmo. Eu sei do ditado diz que "Em terra de sapo: de cócoras com eles" mas, pelo sim e pelo não, optamos por um sabor mais ao nosso gosto mesmo. Churrasco com chá não combina muito, não é verdade?

Conversa daqui, conversa dali, eis que das bandas da cozinha surge nossa garçonete, com a bandeja e os nossos pratos já prontos! Enquanto ela se aproximava, eu esquadrinhava a bandeja, na vã tentativa de localizar o prato das carnes. Carnes?

O meu prato: uma batata inglesa bem grandona, assada no forno e envolta por papel alumínio. De tão grande que era, juro que achei que era batata doce. Estava realmente muito gostosa. Para acompanhá-la, um potinho, parecido com um iogurtinho em miniatura, com margarina. Ao lado da batata havia uma porção enorme de green beens cozidos que, para o meu desalento e desespero, descobri naquele momento que o nome em inglês é um falso cognato: trata-se da nossa velha conhecida VAGEM, que eu tanto detesto, acompanhada por outro potinho com molho para saladas. Finalmente, o churrasco, que nada mais era que porco assado ao forno, todo picadinho, iguais aquelas de carne de porco que são comidos no pão em algumas das nossas cidades brasileiras. O gosto? meio salgado, meio avinagrado, meio amanteigado.

Comi de tudo, fazendo cara de paisagem, apesar da minha frustração. As crianças só beliscaram. Tomaram suas coca-colinhas com batatas-fritas. O que elas deixaram intocado, embalamos tudo e levamos pra casa, que nosso anfitrião americano comeu com muita satisfação.

Enfim, essa é a história do "churrasco" que comi na América.

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Nota: a foto que ilustra esta postagem foi tirada em junho/2011. Morei por um tempo nos EUA e antes de retornar ao Brasil, resolvi me despedir dos restaurantes daquele país comendo exatamente ao mesmo lugar onde se passara a experiência acima relatada. Por capricho do destino, sei lá, o menu era exatamente o mesmo de outrora, portanto, dedidi-me pelo mesmíssimo prato. Não muito surpreso, constatei que seis anos morando na terra do tio Sam alteraram substancialmente meu paladar. Comi tudo com o maior gosto!

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